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Desideratos - Crônicas, contos e poesias. (7)

Querência

Há alguns anos, durante uma aula, fui tocada por uma sublime voz, saída de um som estéreo.

Isabela, minha então professora de literatura, distribuiu uma ficha com a letra de uma música intitulada “Meu guri”, de um escritor-poeta-cantor, Chico Buarque de Holanda, que ela afirmava com veemência ser alguém importante no cenário nacional e ainda mais no “estrangeiro”. Para nós, alunos adolescentes, não passou de um tal de Chico. Assim, sem se importar com o nosso desprezo ruidoso, Isabela nos fez ouvir: “Quando seu moço nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar, já foi nascendo com cara de fome...”. Em seguida nos fez cantar ou a menos acompanhar o balanço daquela canção estranha para nós.

O homem é parte de suas lembranças sobrevividas. Aquela cena ficara guardada em mim, Joana, uma das alunas adolescentes de Isabela. Não percebi, não permiti sua permanência, mas o olhar de Isabela pairava sobre nossos rostos juvenis e desconfiados. Não era um olhar reprovativo como de costume, estava mais para satisfação. Ás vezes, penso que ela alcançou a plenitude buscada por todos. Aquele momento atingiu a mim e a minha professora Isabela, intensamente.

Antes disso eu apenas acompanhava o abrir e fechas das tantas bocas, sem ter noção do significado ou das reflexões estabelecidas a partir daquela música nos enviada. Porém, o êxtase de Isabela impregnou-me. Tomou ares de uma querência a invadir meus sentimentos. Abrigar um querer não é fácil. Comandá-lo beira á dor. Aproveitá-lo nem sempre nos é possível. Não sabendo como lidar com isso, fechei os olhos e me deixei levar pelo refrão: “Olha ai, ai o meu guri, olha ai, olha ai é o meu guri e ele chega...”

Transito sobre essas verdades literárias ou não. Chego a mim mesma ao me tornar parte do mundo de Isabela, minha então professora. O mundo vislumbrado por mim, Joana, uma de suas tantas alunas adolescentes, se transformou em meros minutos de uma aula de literatura. Confesso sem vergonha nem ceticismo que fui tocada. Violada duas vezes: pelo som vindo do estéreo, pelo olhar inerte de Isabela.

Depois daquele dia, minha então professora de literatura não voltou mais a nossa sala. Nós, os alunos adolescentes, não fomos informados do motivo. Todas as tardes ligo o som na esperança da apaziguar meu querer, revisitar aquele momento relegado a algum lugar do meu passado e do presente de minha não mais Isabela.



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Mônica Assunção Mourão
Profª de Literatura da rede pública de ensino
monica@betulino.com.br
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