Desideratos - Crônicas, contos e poesias.
Sapatinhos cor-de-rosa
A vontade do homem muitas vezes não tem importância. A da mulher é outra parte da história.
Encarnação passeava, sem pensar em algo definido, pelas ruas estreitas de uma cidadezinha qualquer. Gostava por demais de apreciar vitrines.O frenesi que lhes causavam era igual ao sentido quando tirava do pé um sapato apertadíssimo! Pé, sapato, aperto. O calcanhar de Aquiles de Encarnação era comprar sapatos e possuí-los com voracidade. Sapatos, sapatilhas, sandálias, tamancos, pantufas. Não importava o preço, a quantidade de cheques pré-datados soltos, nem tão pouco a serventia real dada aos seus pares de felicidade fugaz.
Mas aquela tarde seria diferente. Encarnação saiu de casa para encontrar uma velha amiga. Tomariam sorvete, trocariam confidências como nos tempos dos tempos que não se tinha tanta pressa. O local agradável combinava com o clima de brisa a tocar de leve nos cabelos das mulheres, fazendo-os dançar. Tudo parecia bem. Regina chegou na hora marcada. Encarnação sentiu-se viva ao correr os olhos por todos os detalhes a compor sua estimada amiga. Ao final da discreta conferência dois pontos cor-de-rosa tragaram os sentidos de Encarnação. O instante sedutor estabelecido entre ambos era um grito velado. Um par de sapatos cor-de-rosa, estilo retrô, balançava nos pés daquela conhecida-desconhecida criatura a sua frente. O que se deu dali em diante foi um martírio unilateral. Uma mostrava saudade dos acontecimentos de outrora. A outra lançava sorrisos entre dentes, suava ansiosa para sentir a delicadeza daquelas palmilhas. O quase monólogo durou, perdurou, incomodou. Enfim, despediram-se. Novo encontro marcaram. Regina dobrou a esquina contente.
Às 19h, pontualmente, o marido de Encarnação chegava de mais um exaustivo dia de labuta. A esposa exemplar e estéril esperava-o com o jantar posto. Amâncio teve uma surpresa. Sua mulher, nua na sala, calçada em infantis sapatinhos cor-de-rosa. Panelas vazias, rádio ligado. Nua e insinuante. Nua e despojada na poltrona estampada. Nua e muda. Um cheiro pesado de cravo e pimenta entorpecia o ar. Amâncio, sem nada dizer, a possuiu enquanto o locutor anunciava: “Encontrado, hoje, à tardinha, nas proximidades do beco das almas, o corpo de uma jovem senhora. A polícia já descartou a possibilidade de assalto porque a bolsa e as jóias ficaram. O mais estranho é que a vítima estava descalça e teve os pés quebrados. Maiores informações no noticiário noturno”.
Alheios a tudo, o par de sapatinhos cor-de-rosa, Encarnação e Amâncio permaneceram imersos em gozos de todas as cores inventadas pela avidez daquele instante.
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Muito Legal seu texto Mônica xD, espero q tenhas muito + sucesso pela frente!
Posted by Anônimo | 7 de fevereiro de 2007 às 21:45
oiii
Mônica
mt
legal mesmo
seu texto
mt criatividade
mesmo...
vc Realmente
tem um dom, de
amar a Lieteratua...
bjoss
e mt sucesso no seu trabalho....
Posted by Emanuela Ilana A. Saraiva | 7 de fevereiro de 2007 às 21:56
Ah.. Mônica sempre escreveu bem... esse texto é só uma amostra do potencial da garota.
^^'
Posted by Anônimo | 7 de fevereiro de 2007 às 22:00